Revista Eletrônica de Anatomia & Ciências. v.1,n.1,p.1,(Jul-Dez).2011

Revista Eletrônica de Anatomia & Ciências. v.1,n.1,p.1,(Jul-Dez). 2011

A COLUNA VERTEBRAL EM SEUS ASPECTOS ANATÔMICO, FUNCIONAL E CLÍNICO.
THE SPINAL CORD IN ITS ANATOMICAL, FUNCIONAL AND CLINICAL ASPECTS.

Ronald de M. S. Rega
Mestre em Morfologia e Biologia Celular pela FMRP (USP), rmsrega@yahoo.com.br
Margareth Costa Neves
Mestre em Patologia pela UFF-RJ, margarethneves@hotmail.com
Claudio de C. Piffer
Mestrado em Ciências Biológicas (Zoologia) pela UFRJ, ccpiffer@ig.com.br

Endereço para correspondência: Centro Universitário Augusto Motta. Avenida Paris 72, Bonsucesso CEP 21041-010 - Rio de Janeiro, RJ, ronaldd@unisuamdoc.com.br

O estudo anatômico e funcional da coluna vertebral é de fundamental importância para a compreensão de diversos fatores patológicos que prejudicam diretamente ou indiretamente essa parte do corpo causando desconforto aos pacientes. A coluna vertebral representa a parte mais importante do esqueleto axial sustentando a maior parte do peso corporal, permitindo a mobilidade da cabeça e do tronco além de ajudar, nos movimentos dos membros e até mesmo no processo da mastigação. Esse estudo abrange de forma sucinta os aspectos básicos da anatomia, fisiologia e patologia da coluna vertebral.


Abstract - The anatomical and functional study of the spine is of fundamental importance for the understanding of several pathological factors that directly or indirectly affect the body part causing discomfort to patients. The spine is the most important part of the axial skeleton holding most of the weight, allowing the mobility of the head and trunk as well as helping in limb movements and even the process of mastication. This study briefly covers the basics of anatomy, physiology and pathology of the spine.

Breve histórico
A estrutura da coluna vertebral demonstra interesse aos cientistas a mais de 4000 anos. Podemos verificar que em 2000 anos a.C. o médico egípcio Imhotep relatou em papiros a relação da tetraplegia com lesão de vértebras cervicais. O mesmo mandou construir a pirâmide de Sakkara, considerada a mais antiga, feita em 2650 a.C., baseado na disposição das vértebras empilhadas. Para o povo egípcio a ressurreição dependia principalmente da preservação da coluna vertebral, o que era o maior objetivo nas técnicas de mumificação. Na Grécia em 420 a.C. Hipócrates já tratava a hérnia de disco pendurando o paciente de cabeça para baixo numa escada por quarenta dias usando assim tração gravitacional. Na era crista o médico e filósofo romano Élio Galeno tratava hérnias usando tração mecânica modernizando a técnica aplicada por Hipócrates.


Constituição óssea
            A coluna vertebral é formada por 33 vértebras dispostas em cinco regiões sendo, sete na região cervical, doze na região torácica, cinco na região lombar, cinco na região sacral e quatro na região coccígea. As regiões cervical, torácica e lombar apresentam discos intervertebrais entre os corpos. As vértebras que apresentam nomes são a C1 chamada de atlas, a C2 chamada de áxis e a C7 chamada proeminente. Como as vértebras sacrais e coccígeas não apresentam discos intervertebrais, formam os ossos sacro e cóccix respectivamente.

            Para ajudar na distribuição do peso entre as vértebras a coluna vertebral apresenta quatro curvaturas normais sendo duas primárias e duas secundárias que se alternam. As curvaturas primárias, de concavidade anterior são as torácica e sacral já as curvaturas secundárias, que se estabelecem após o nascimento, apresentam concavidade posterior. A coluna vertebral assumiu grande importância na postura pelo efeito da gravidade na posição ortostática, o que pode levar ao aparecimento de osteófitos marginais ou “bico de papagaio”. Esses osteófitos surgem quando os discos intervertebrais diminuem sua espessura permitindo o contato entre as vértebras o que causa um processo de sinostose e conseqüentemente a anquilose (diminuição ou perda da mobilidade na coluna vertebral). Estes osteófitos podem afetar raízes nervosas e até mesmo alguns órgãos.


Aparelho articular e ligamentos
A coluna vertebral também apresenta diversas articulações que vão permitir a mobilidade da cabeça, pescoço e tronco. As articulações especiais permitem a mobilidade da cabeça e são feitas entre o occipital e o atlas na articulação atlanto-occipital, classificada como sinovial condilar, que realiza os movimentos de flexão e extensão e a articulação atlanto-axial, classificada como sinovial trocóide, como o próprio nome diz, ou seja, entre as vértebras atlas e áxis que realiza o movimento de rotação da cabeça.

            Os movimentos de flexão, extensão, inclinação lateral e rotação do pescoço e do tronco são feitos pelas articulações observadas entre as vértebras que apresentam discos intervertebrais. Os discos intervertebrais são cartilagens especiais que apresentam um anel fibroso periférico e um núcleo pulposo mais gelatinoso central que funciona como amortecedor de pressão permitindo também os movimentos nas regiões cervical, torácica e lombar. A região torácica da coluna apresenta mobilidade reduzida devido as articulações costovertebrais.

O desgaste do disco intervertebral devido ao tempo ou a fatores repetitivos pode levar as hérnias de disco, ou seja, a extrusão do núcleo pulposo central para dentro do canal vertebral devido à ruptura do anel fibroso periférico. Esse problema é mais freqüente na região lombar por apresentam maior mobilidade e suportar mais carga.

Os principais ligamentos da coluna vertebral são os longitudinais anterior e posterior, localizados nos corpos vertebrais, limitam os movimentos de extensão e flexão respectivamente, já os ligamentos supra-espinhal, interespinhal, intertransversário e ligamentos amarelos, localizados entre os arcos vertebrais, atuam mantendo o alinhamento entre as vértebras alem de limitar os movimentos da coluna vertebral.


Aparelho muscular
Os movimentos da coluna vertebral são realizados por diversos músculos que estão localizados no abdome, pescoço e ao longo de seu comprimento. O principal grupo muscular forma o complexo sacro-espinhal atuando no movimento de extensão da coluna vertebral. Esse complexo é formado pelo músculo eretor da espinha que apresenta três colunas musculares: o iliocostal que forma a coluna lateral, o longuíssimo que forma a coluna intermédia e o espinhal que forma a coluna medial. Pequenos músculos localizados na goteira vertebral atuam principalmente mantendo o alinhamento entre as vértebras.

Na região dorsal do pescoço os músculos esplênios da cabeça e pescoço fazem a extensão, inclinação lateral e rotação da cabeça e pescoço. O pescoço apresenta três grupos de músculos vertebrais importantes nos movimentos do pescoço e da cabeça: os músculos pré-vertebrais (longo do pescoço, longo da cabeça e reto anterior da cabeça) são principalmente flexores, os para-vertebrais (escalenos anterior, médio e posterior) fazem a inclinação lateral e os pós-vertebrais (semi-espinhais da cabeça e pescoço e retos posteriores maior e menor da cabeça) fazem a extensão, porém atuam como músculos posturais para a cabeça.


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