Revista Eletrônica de Anatomia & Ciências. v.2,n.2,p.1,(Jul-Dez).2012

Revista Eletrônica de Anatomia & Ciências. v.2,n.2,p.1,(Jul-Dez). 2012

INFLUÊNCIA DA RESTRIÇÃO PROTÉICA PRECOCE NO CRESCIMENTO PULMONAR PÓS-NATAL EM COELHOS (Oryctolagus cuniculus)

INFLUENCE OF EARLY PROTEIN RESTRICTION ON POSTNATAL LUNG GROWTH IN RABBITS (Oryctolagus cuniculus)
Ronald de Mesquita Soares Rega 1 & Margareth Costa-Neves 2

1 Biomédico Anatomista. Mestre em Morfologia e Biologia Celular pela FMRP – USP.

2 Bióloga Anatomista. Professora. Mestre em Patologia - Centro de Ciências Médica da UFF.

Resumo
Foram analisados os efeitos da restrição protéica no crescimento ponderal de pulmões em coelhos da espécie Oryctolagus cuniculus. Os animais, divididos em grupo controle e grupo experimental com restrição protéica, tiveram os dados comparados utilizando o método alométrico bivariado. Nossos resultados indicaram que os pulmões apresentaram uma redução de 8,1% no crescimento em peso quando comparado ao grupo controle, possivelmente devido à necessidade de proteínas estruturais envolvidas no crescimento.
Palavras-chaves: crescimento, pulmão, coelho, alometria, restrição protéica.
Abstract
We analyzed the effects of protein restriction on growth of lung weight in rabbits of the species Oryctolagus cuniculus. The animals were divided into control and experimental group with protein restriction and the data compared using bivariate allometric method. Our results indicated that the lungs showed a reduction of 8.1% growth in weight when compared to the control group, possibly due to the need for structural proteins involved in growth.
Key words: growth, lung, rabbit, allometry, protein restriction.
Introdução
Os pulmões são os órgãos vitais da respiração e sua função principal é oxigenar o sangue colocando o ar inspirado em relação íntima com o sangue venoso nos capilares pulmonares (Moore e Dalley 2001) (1). O aparelho respiratório sofre alterações estruturais importantes durante seu desenvolvimento pré-natal (Thurlbeck 1975-1992) (2,3), porém, pela falta de estudos que utilizam o método alométrico para avaliar o desenvolvimento e o crescimento pulmonar em humanos e animais no período pré e pós-natal, torna-se difícil avaliar a interferência de fatores pós-natais no desenvolvimento pulmonar normal. O modelo alométrico vem sendo usado desde o século 19 para avaliar o crescimento corporal, entretanto, foi na primeira metade do século XX que Huxley (1924) (4) e Thompson (1948) (5) utilizaram a alometria para pesquisas morfológicas. Os métodos bivariados e multivariados também foram empregados nos estudos de crescimento em outras espécies: primatas (6), vaca (7), lagarto (8) e crustáceos (9) e humanos (10,11). Dependendo dos valores de b e k, a relação filogenética e ontogenética podem ser paralelas, divergentes, convergentes, ou uma combinação destes três (12).
Este trabalho tem como objetivo analisar quantitativamente os efeitos da restrição protéica no crescimento pulmonar em coelhos da espécie Oryctolagus cuniculus durante o primeiro mês de vida extra-uterina utilizando o método alométrico bivariado.
Materiais e métodos:
A)Animais:
Cem coelhos de ambos os sexos da espécie Oryctolagus cuniculus foram obtidos para o estudo dos efeitos da restrição protéica sobre o crescimento do fêmur e da tíbia por um período de 42 dias. Indivíduos que apresentaram sinais patológicos claros como malformações foram excluídos do estudo. Os animais aparentemente saudáveis foram divididos em dois grupos: grupo controle (n=50) que recebeu dieta balanceada a 20% de proteína ad libitun e grupo experimental (n=50) que recebeu dieta restrita a 8% de proteína também ad libitun. Os nutrientes básicos da dieta controle são mostrados na tabela I. As dietas foram preparadas de acordo com American Institute of Nutrition (1977) (13). Os pesos dos animais e dos ossos foram obtidos com uma balança precisão (0.001 g).

B)Analise estatística:
            Os pesos do corpo e pulmões foram correlacionados após a transformação do modelo multiplicativo (função potencia) para o modelo linear (equação da reta) (Huxley, 1932) (14):
1) Y = b X K (modelo multiplicativo)
2) Log Y = (K) Log X + b Log (modelo linear)
Onde Log Y é a variável dependente (peso do pulmão), Log X é a variável independente (peso corporal), K é o coeficiente alométrico do registro ou declive e b o coeficiente de crescimento inicial. A fim de resolver o problema das estimativas entre X e Y, quando as duas variáveis estão sujeitas a medições de erro, utilizamos o método do eixo maior reduzido EMR (9-12). R2 e a estatística F foram utilizados para determinar a importância de cada regressão. O teste-t de significância foi menor que 0,05 (Robinson e Wilber 1961; Sokal e Rohlf 1981) (15,16).
Resultados e discussão:
            Nas tabelas II e III comparamos os resultados obtidos nos grupos controle e experimental respectivamente. R2 e a estatística F indicaram que todas as regressões foram significativas (r > 0,90, r2 > 0,81) e o modelo linear apropriado. A análise bivariada indicou alometria positiva (K>1.0) nos dois grupos, porém, o grupo com restrição protéica apresentou K menor que o do grupo controle. Ao testar a significância desses coeficientes com test-t todos os coeficientes foram estatisticamente significativos (p <0,001).
Nossos resultados indicam que o crescimento ponderal do pulmão no grupo com restrição protéica foi 8,1% menor do que no grupo controle. Outros estudos quantitativos, utilizando o mesmo método alométrico demonstram que a restrição protéica afeta o crescimento em vários sistemas orgânicos. Neto et al em 1997 (17) constatou um aumento de 7,5% na taxa de crescimento do estômago e intestino em Gallus domesticus submetidos à restrição protéica. Marques-dos-Santos et al (1998) (18) relatou que a dieta hipoprotéica diminui em 9,4% o crescimento do miocárdio em frangos de corte. Rega e Costa-Neves (2004) (19) revelaram uma redução de 9% no crescimento do encéfalo em coelhos no período pós-desmame e Rega e Costa-Neves (2010) (20) confirmaram que a restrição protéica também reduz em 8,7% o peso do fêmur e da tíbia em coelhos.
Neste estudo o coeficiente alométrico em ambos os modelos (controle e experimental) foram positivos (K>1.0), porém, o modelo experimental apresentou uma taxa menor (K=1,202) do que o controle (K=1,476). Os dados ainda revelaram uma perda média de 8,1 % da massa pulmonar nos indivíduos desnutridos. Devemos ter cuidados para afirmar se a restrição protéica afeta significativamente o crescimento orgânico como um todo ou em parte, por isso são necessários novos estudos para confirmar nossos resultados.
Tabela I – Composição da dieta controle (DC).

Milho                          59.80%
Farelo de soja             20.03%
Farinha de carne         15.00%
Fosfato bicálcio          01.45%
Sal                              00.50%
Suplementos               03.00%

Tabela II - Resultados do crescimento ponderal do pulmão usando o método bivariado Log y = (K) Log x + b Log. Grupo controle (GC) e Grupo experimental (GE).
Log Y (g)        K(EMR)a        IC - 95%(k)b               Log b                          r (r2)
Pulmão (GC)  1.476               1.402-1.550                -0.867             0.922 (0.850)
Pulmão (GE)   1.202               1.142-1.262                -1.395             0.993 (0.986)
a Eixo Maior Reduzido
b 95% Intervalo de confiança para K

Bibliografia:
1.Moore KL, Dalley AF. Anatomia orientada para a clínica. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan. p.111-120. 2007.
2.Thurlbeck W. Postnatal growth and development of the lung. Am Rev Respir Dis. v.111:p.803-44. 1975.
3.Thurlbeck W. Prematurity and the developing lung. Clin Perinatol. v19 . p.497-518.1992
4.Huxley JS. Constant differentiation growth ratios and their significance. Nature, v.114, p.895-896. 1924.
5.Thompson AW. On growth and form. MacMillan, New York, 1948.
6.Jungers ED. Size and scaling in primate biology. New York: Plenun Press, 1985.
7.Szuba Z. Cardiac weight in cattle (Bos taurus L.) during fetal development. Pol Arch Weter. v26. p163-168. 1986.
8.Barbosa OR. Estudo morfológico e quantitativo do coração de Liolaemus lutzae Mertens, 1938 (Sauria:Iguanidae). Departamento de Histologia e Embriologia, UFRJ (Dissertação de mestrado), 1989.
9.Valenti WC. Crescimento relativo de Macrobrachium acanthurus (Wiegmann, 1836) (Crustacea, Decapoda, Palaemonidae). Rev Bras Zool. v6. p1-8. 1989.
10.Rega RMS, Costa-Neves M, Wanderley SS. Croissance du cervelet humain: une estimation quantitative. Arch Anat Hist Emb norm. et exp. v 74. p 57-60. 1991
11.Costa-Neves M, Wanderley SS, Rega RMS. The development of human fetal pons. A quantitative study (9th to 12th weeks post-conception). Rev. Bras. Neurol. V.29, p.23-24. 1993.
12.Jacobson A. - The craniofacial skeletal pattern of the South African Negro. Am. J. Orthod., 73:681-691, 1978.
13.American Institute of Nutrition. Report of the American Institute of Nutrition Ad Hoc Committee on Standarts for Nutritional Studies. J Nutr, v. 1, p. 1340-1348. 1977.
14.Huxley JS. Problems of relative growth. London: Methuen, 1932.
15.Robinson PF, Wilber CG. Organ: body-weight relationships in hamster. Anat Rec, v.141. p.31-33, 1961.
16.Sokal RR, Rohlf FJ. Biometry. The principles and practice of statistics in biological research. New York. Ed.Freeman. p.37, 1981.
17.Neto JLS, Rega RMS, Costa-Neves M. Effect of postnatal protein undernutrition on chick (Gallus domesticus): allometric study of stomach and gut growth. Rev. Unimar. v19(2). p 549-555. 1997
18.Marques-dos-Santos E, Rega RMS, Costa-Neves M. Effect of postnatal protein undernutrition in chick (Gallus domesticus): A quantitative study of myocardium. Biomedical Research. v 9(2). p187-190. 1998.
19.Rega RMS, Costa-Neves M. Efeito da desnutrição protéica no crescimento pós-natal do peso cerebral de coelho (Oryctolagus cuniculus). Rev. Biom. v 62. p 24-25. 2004
20. Rega RMS, Costa-Neves M. Influência da restrição protéica precoce no crescimento dos ossos longos em coelho (Oryctolagus cuniculus). Rev. Episteme. v.(julho a dezembro). p.76-79. 2010.