Revista eletrônica de Anatomia & Ciências. v.2,n.1,p.1,(Jan-Jun).2012

Revista eletrônica de Anatomia & Ciências. v.2,n.1,p.1,(Jan-Jun). 2012
RELAÇÃO ENTRE A SENSIBILIDADE CUTÂNEA E A MASSAGEM AYURVÉDICA
Relationship between the skin sensitivity and ayurvedic massage


Margareth Costa Neves
Mestre em Patologia pela UFF-RJ, margarethneves@hotmail.com
Denise Botelho de Oliveira Braga
Doutora em Medicina Veterinária pela UFRRJ-RJ, dbobraga@globo.com
Ronald de Mesquita Soares Rega
Mestre em Morfologia e Biologia Celular pela USP-SP, rmsrega@yahoo.com.br


RESUMO: A pele representa o maior órgão do corpo humano, sendo, um elo de interação entre o meio externo com o meio interno, podendo gerar reações fisiológicas e emocionais integrando o eixo psiconeuroimunológico. Esse estudo visou compreender as reações orgânicas e emocionais que as pessoas apresentam quando submetidas à massagem ayurvédica.
Palavras-chave: Pele. Neuroanatomia. Massagem. Ayurvéda.

ABSTRACT: The skin is the largest organ of human body, being a link between external interactions with the environment, and can generate internal physiological reactions and emotional integrating psiconeuroimunological axis. This study aimed to understand organic and emotional reactions that people have when subjected to ayurvedic massage.
Keywords: Skin. Neuroanatomy. Massage. Ayurveda.

INTRODUÇÃO
            A massagem é tão antiga quanto o aparecimento do homem na Terra. Na Índia, por volta de 1800 a 500 a.C. a cultura indiana védica espalhou-se para o oeste através do Rio Ganges. Eles desenvolveram uma forma única de medicina, a Medicina Ayurvédica, conhecida como a mãe da medicina pois seus princípios e estudos foram a base para, posteriormente, o desenvolvimento também da medicina tradicional chinesa, árabe e romana (CAMPADELLO, 2005; CARNEIRO, 2008). A popularidade da massagem ayurvédica, pode ser explicada pela necessidade da busca pelos valores naturais em resposta das condições desgastantes da vida moderna. A massagem ayurvédica apresenta excelentes resultados para esses males, tornando importante sua divulgação como um método simples de tratamento, bem como a compreensão dos seus mecanismos de ação. O objetivo desse estudo foi fazer uma revisão bibliográfica sobre a relação entre a sensibilidade cutânea e a massagem ayurvédica, bem como sua importância no bem-estar físico e mental.
MATERIAL E MÉTODOS
            O tema abordado foi pesquisado em revistas, boletins e jornais de caráter científico, disponíveis nas bibliotecas virtuais Bireme (que oferece bases de dados atualizados da Medline e Lilacs) e Scielo (que abrange uma coleção de artigos científicos brasileiros e internacionais), além de livros das áreas de anatomia, fisiologia, neuroanatomia e medicina ayurvédica.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A ciência ayurvédica originou-se da cultura védica, que surgiu há mais de 5 mil anos na Índia. É um sistema de cura tradicional que promove a saúde integral do indivíduo, normalizando o metabolismo e beneficiando os sistemas orgânicos. A ayurveda utiliza medidas terapêuticas que relacionam o físico, o mental, o social e a harmonia espiritual que envolve ioga, massagens, dietas e o uso de ervas, óleos, pós e aromas (COOPER, 2008; GASPERI, RADUNS e GHIORZI 2008; D’ANGELO e CÔRTES, 2010).
Para o ayurveda, o indivíduo é único, apresentando características físicas e psicológicas específicas conhecidas como doshas (vata, pitta e kapha) (FRAWLEY, 1996), que governam todas as funções físicas e mentais do corpo. Um funcionamento coordenado e equilibrado deles sustenta a vida e ajuda a manter a boa saúde. Seus desequilíbrios causam decadência no corpo e problemas na personalidade (VERMA, 2006; GASPERI, RADUNS e GHIORZI 2008; CARNEIRO, 2008).
Devido à origem comum da pele com o sistema nervoso, o tato é o primeiro sentido a desenvolver-se no feto, mesmo antes da visão e da audição (BÁRSIA e SÁ, 2000). É através da pele que fazemos a distinção entre o mundo interior e exterior; isto porque na pele se encontram muitos receptores que transmitem todas as informações ao sistema nervoso central.
            Todas as técnicas e métodos utilizados pela massoterapia se destinam àqueles que necessitam do toque direto no corpo e/ ou da massagem, para manter o estado de equilíbrio. O toque utilizado pela massoterapia pode ser mais profundo ou mais sutil, de acordo com o objetivo da especialidade, tal como atuar na estrutura mecânica do corpo, estimular ou sedar algum estado energético e/ou fisiológico, conduzir a autoconsciência ou trabalhar campos energéticos. De acordo com a Associação Brasileira de Medicina Complementar ([ABMC] 2004) a massoterapia tem como objetivo manter a saúde e prevenir desequilíbrios, contribuir na promoção do bem-estar e da melhor qualidade de vida, assim como, em ação conjunta e complementar com as técnicas terapêuticas da medicina oficial, propiciar uma prática de cooperação em níveis e estágios diferenciados, visando maior eficácia nos tratamentos de saúde. Ela se enquadra na área de abrangência da integração terapêutica preconizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Segundo Bárcia e Sá (2000), torna-se importante resgatar a prática de massagens ancestrais reintroduzindo assim a comunicação não verbal através da pele. Na Índia a massagem é uma das formas de promover saúde e prevenir doenças, é uma tradição que passa de mãe para filha. Nos dias atuais, com o desenvolvimento da medicina e da farmacologia a massagem perdeu a sua importância como forma de tratamento.Em 1991, Tiffany Field e sua equipe criaram o Touch Research Institute (TRI), que representa o centro de investigação mais avançado do mundo nas pesquisas sobre a estimulação tátil (BÁRSIA e SÁ, 2000). O sentido do tato é fundamental no crescimento, desenvolvimento, comunicação, aprendizado e também essencial para o conforto e a auto-estima do ser humano (SELIGMAN, 2002). Ao se manipular um corpo através da massagem, mesmo que superficialmente, cria-se uma cadeia de estímulos que envolvem todo o corpo beneficiando o indivíduo globalmente, no nível físico e mental (ou psicológico). No físico, de forma geral, ela age nos sistemas imunológico, digestivo e linfático. No mental, ajuda a relaxar. Os efeitos são considerados mecânicos, neurais, químicos e fisiológicos ou simplesmente mecânicos e reflexos (MENNEL, 1920 apud CASSAR 2001).
            Segundo Cassar (2001), mesmo o efeito mecânico da massagem gera resposta reflexa neural, há interação psicogênico-energética entre o terapeuta e o paciente como resultado desse contato. O efeito reflexo ocorre de modo indireto. O processo ocorre pelo interrelacionamento dos sistemas nervoso periférico, central, autônomo e neuroendócrino. O efeito reflexo da massagem é, talvez, mais importante que sua ação mecânica. Estudos sobre o efeito do relaxamento mostram uma resposta positiva sobre a saúde (COHEN e HERBERT, 1996 apud MAIA 2002). A estimulação tátil evidencia a capacidade de metabolizar, coordenar e organizar estímulos externos, procurando manter a homeostase interna e externa, demonstrando a interação entre sistema neuroendócrino e a pele, podendo produzir mudanças metabólicas e fisiológicas importantes. A pele também possui mecanismos para lidar com estressores de baixa magnitude e que podem ser registrados através de informações ambientais (FOGAÇA, CARVALHO e VERRESCHI, 2006). A estimulação tátil em bebês pré-termos produz efeitos na maturação e/ou atividade do sistema nervoso simpático. Os efeitos do contato pele a pele entre mães e bebês demonstram redução dos níveis de cortisol e β-endorfina, enfatizando a resposta do sistema hormonal de bebês em relação ao contato. Lactentes que recebem massagem terapêutica não apresentam sinais de estresse (BÁRCIA e SÁ, 2000; FOGAÇA, CARVALHO e VERRESCHI, 2006). Na Índia é muito comum os bebês receberem massagem das suas mães, essa massagem é conhecida como Shantala (LEBOYER, 1986).
            Quando as pessoas são submetidas a toques e/ou massagens geralmente relaxam e afrouxam suas defesas, podendo usufruir os efeitos positivos da mesma. Algumas vezes, entretanto, podem sentir dores ao ser massageadas que pode ser devido a regiões envolvidas por tensões musculares. Os músculos tendem a relaxar com uma pressão direta e firme, por isso é importante saber qual pressão deverá ser empregada. Outro fator importante é manter uma respiração profunda e plena, de modo a ter energia nas mãos, pois o toque é um processo energético de contato (LOWEN e LOWEN, 1985 apud MOYZÉS e LELIS, 2004).
Massagens regulares ajudam a equilibrar os doshas, revitalizar os órgãos do corpo e diminuir o processo da degeneração decorrente do envelhecimento (D’ANGELO e CÔRTES, 2010). A massagem ajuda a abrir todos os canais no corpo, assegura uma boa circulação da energia em todas as partes e traz vitalidade e vigor (VERMA, 2006).  A massagem ayurvédica apresenta importante papel para aliviar tensões musculares, estresse e ansiedade, além de favorecer o crescimento, a respiração, a freqüência cardíaca e o sistema imunológico. Também é benéfica para a diminuição da violência, já que hoje vivemos numa época de relações superficiais. Portanto, se torna evidente a necessidade de novas pesquisas no que se refere aos efeitos específicos da massagem ayurvédica no corpo e na mente. Por ser considerada uma intervenção de baixo custo e não requerer cuidados sofisticados para conduzir a resultados satisfatórios em muitos casos, pode ser usada em hospitais, postos de saúde e nos Programas de Saúde da Família, como recomendado pela OMS.
REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE MEDICINA COMPLEMENTAR. Massoterapia. 2004. Disponível em <http://www.medicinacomplementar.com.br/estrategia_massoterapia.asp>. Acesso em: 17 set. 2010.
ÁRCIA, S.; SÁ, E. A importância do toque e da massagem do bebê... alguns apontamentos. In: J. CARVALHO TEIXEIRA. Psicologia da saúde. Lisboa: Climepsi Editores, col. Manuais Universitários, 2000.
CAMPADELLO, P. Massagem ayurvédica. São Paulo: Editora Madras, 2005.
CARNEIRO, D.M. Ayurveda: saúde e longevidade na tradição milenar da Índia. São Paulo: Editora Pensamento, 2008.
CASSAR, M.P. Manual de massagem terapêutica. São Paulo: Editora Manole, 2001.
COHEN, S.; HERBERT, T.B. Health psychology: Psychological factors and physical disease from a perspective of human psychoneuroimmunology. In: MAIA, A.C. Emoções e sistema imunológico: um olhar sobre a psiconeuroimunologia. Psicologia: teoria, investigação e prática, n.2, p.207-225, 2002.
COOPER, E.L. Ayurveda is embraced by eCAM. eCAM, n.5, v.1, p.1-2, 2008.
D’ANGELO, E.; CÔRTES, J.R. Ayurveda: a ciência da longa vida. São Paulo: Editora Madras, 2010.
FOGAÇA, M.C; CARVALHO, W.B.; VERRESCHI, I.T.N. Estimulação tátil-cinestésica: uma integração entre pele e sistema endócrino? Rev. Bras. Saúde Matern. Infant., v.6, n.3, p.277-283, 2006.
FRAWLEY, D. Uma visão ayurvédica da mente: a cura da consciência. 5. ed. São Paulo: Editora Pensamento, 1996.
GASPERI, P.D; RADUNS, V.; GHIORZI, A.R. A dieta ayurvédica e a consulta de enfermagem: uma proposta de cuidado. Ciência da saúde coletiva, v. 13, n.2, 2008.
MENNELL JAMES, MA. Massage, its principle and practice. Churchill, 1920. In: CASSAR, M.P. Manual de massagem terapêutica. São Paulo: Editora Manole, 2001.
LEBOYER, F. Shantala, massagem para bebês: uma arte tradicional. São Paulo: Editora Ground, 1995.
LOWEN; LOWEN. Exercícios de bioenergética – O caminho para uma saúde vibrante. In: MOYZÉS, M.H.F.; LÉLIS, M.T.C. Toque corpora: criatividade e vida. In: CONVENÇÃO BRASIL LATINO AMÉRICA, CONGRESSO BRASILEIRO E ENCONTRO PARANAENSE DE PSICOTERAPIAS CORPORAIS. n.1., v.4., p.9., 2004. Foz do Iguaçu. Anais... Centro Reichiano, 2004.
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VERMA, V. Ayurveda: a medicina indiana que promove a saúde integral. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Nova Era, 2006.